Semana passada estava lendo "O Teatro da Morte" de Tadeusz Kantor.
O livro aborda o processo criativo de Kantor que se resume em quatro palavras: a cena, o espaço, o objeto e a repetição. Apaixonado pela arte e embelezado pelas manifestações da vida, Kantor criou o teatro experimental que leva a construção cênica até o limite da tensão, ele utiliza o texto como uma pá que cava até o ponto mais escuro e isolado da ilusão sem superficialidades e com o auxílio da cenografia para a construção desse universo sombrio e casado com a realidade com a apropriação total dos fenômenos e objetos mais expressivos e comuns.
O teatro experimental é a apreciação da preparação do processo que libera a cena a partir de partituras pesadas, inusitadas e ilusórias.
O texto fala do artista desprovido do compromisso plástico do teatro, que inova no fazer criativo e o cultiva com a amplidão das possibilidades dos objetos disponíveis ao redor.
Dentro da sua formação de artes plásticas e cenografia, Kantor se apropria do processo de construção de uma obra (expositiva ou encenada) como sendo ela a própria obra, deixando visível todas as suas “amarrações” e “adequações” dentro de uma estética visual voltada para o teatro com todas as suas tensões.
Para Kantor, a obra de arte deve possuir uma intimidade clara com a realidade, ela deve ser constituída de objetos cotidianos reinterpretados, reestruturados, é como se ele desse uma nova finalidade para elementos comuns do dia a dia.
Certamente que o momento político e social da época agiu agressivamente em todos os processos criativos de Kantor, é bastante perceptível a tensão descrita nas partituras, observada nos elementos cênicos e paredes quase sempre escuras e vazias, nos atores-artistas com seus movimentos cuidadosamente sentidos com cada pedaço do corpo nú ou vestido, e principalmente nos sons sempre presentes como elemento fundamental inclusive na sua quase ausência.
Kantor tanto no Teatro-Happening quanto no Teatro Independente, focados nesse texto propõe ao ator a renúncia das convenções, a liberdade é totalmente explorada dentro do que há de mais tenebroso na mente, nos sonhos, nos medos... As escolhas nas encenações são induzidas pelos estranhamentos, pelos absurdos, pelas “impossibilidades” concedidas pelas partituras.
FICHAMENTO feito por Priscila Pimentel
KANTOR, Tadeusz. O Teatro da Morte. Textos organizados e apresentados por Denis Bablet. – São Paulo: Perspectiva: Edições SESC SP, 2008. – (Estudos; 262 / dirigida por J. Guinsburg).