No dia 11 de março desse ano, tive a oportunidade de ir ao teatro Vila Velha conferir o espetáculo "Casa de Ferro", e somente agora encontrei o tempo para escrever a respeito, e corri para encontrar esse tempo pois o Vila Velha é um espaço que me agrada muito e o espetáculo em destaque me comoveu bastante. Talvez esse tenha sido um dos espetáculos mais comoventes que já tenha tido de fato o prazer em conferir de perto. É complicado produzir espetáculos cênicos com tamanha qualidade e com tão poucos recursos materiais no palco, esse que por sua vez contribuiu bastante para a perfeição, por assim dizer, da mágica envolvente que a meu ver fazia parte da proposta da encenação que trazia um texto religioso-mítico que como literatura de tal categoria tem por obrigação puxar o espectador para dentro daquele universo e faze-lo participar através de reações únicas que somente cada som proporciona em cada membro expressivo do corpo do público. A proposta entendida foi a de um ciclo completo de vida e renascimento como energia de um ser dentro da cultura africana. A sonoridade produzida pelo corpo do ator traz a diáspora africana, o espectador vê a cena e sente com todo o corpo a angustia, o encanto, a agonia, o sufoco, a libertação, o nascimento, a captura, a resistência, a transcendência metafísica do personagem e participa disso como se estivesse induzindo o percurso com a ansiedade abafada no olhar, na respiração, nos dedos contraídos nas mãos sobre as pernas que nem a escuridão da sala garante a livre expressão dos gestos mais entusiasmados. “Casa de Ferro” é um daqueles espetáculos pra olhar no fundo dos olhos do ator e persegui-lo atordoado com a pergunta mais culposa que um homem irmão pode fazer, e fazemos isso porquê também somos fuzilados com o olhar sonoro do ator que nos cobre de um ódio sufocado e perdido em um amor espiritual além desse que estamos sentindo por dentro de nossa alma e que não conseguimos cuspi-lo para fora, nem na escuridão da sala de teatro.
Texto Priscila Pimentel
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