INTERVENÇÕES MULTIPLAS: ARTE E CIDADE NA CENA CONTEMPORÂNEA, esse foi o tema do XII Enearte ocorrido entre os dias 20 e 26 de Outubro na cidade de Belém-PA, e lamentavelmente reafirmou minhas suspeitas sobre o “fim” do evento como acréscimo educacional. O que é o Encontro Nacional dos Estudantes de Arte hoje senão uma “festa” onde o único objetivo parece ser: estar solteiro(a) e curtir muito. Discurções desnecessárias como “O que é cultura?” embalaram alguns debates que custaram algum tempo na intenção de se chegar a um ponto, a uma definição. Ora, se isso é um evento de nível acadêmico, porquê nos permitimos tocar em pontos intelectuais de nível fundamental?! Cultura, principalmente nos dias de hoje em que tanto se comenta e se produz arte efêmera e performances, é indefinível! Isso chega a ser constrangedor, ao menos pra mim. Creio que a publicidade pessoal da imagem tentou falar mais alto em alguns, outros pareciam aproveitar aquela excursão de meio de semestre para fugir um pouco de suas correrias, poucos estavam na visível luta de tentar resgatar os reais interesses e valores do Enearte, e outros já sem esperanças estavam na busca pela educação cultural além dos portões da UFPA que acolhiam o encontro. O Enearte, ao meu ver, acabou em 2004, quando Belo Horizonte-MG sediou, cativou e instigou os participantes a mostrarem suas jovens pesquisas e intervirem de forma criativa e acadêmica no espaço urbano que abrange a outra sociedade que vive distante da arte como meio cultural, como parte da história deles, história nossa, coletivo. A cultura, se pudéssemos defini-la, teria a voz de uma criança de uma creche pública de alguma cidade do interior do sertão que brinca de ciranda de baixo de um pé de umbú num dia de Reis, a sabedoria de um idoso que fabrica brinquedos artesanais para vender nas feiras, a força de uma mãe solteira que trabalha em 3 empregos para sustentar o filho e deixa claro para ele a real sofrida e batalhadora situação em que eles vivem que mal pode pagar o ingresso de um cinema e por isso compra DVD pirata na rua, a belexa de uma avó analfabeta que leva seu neto para assistir a um teatro de rua no parque da cidade, a inrreverência de um grupo de adolescentes que vão para uma praça assistir a um show de alguma banda alternativa local,... Cultura é tão indefinívil quanto as variações de pureza do ar que cada um de nos respira, e isso não sou eu e nem ninguém que pode definir, isso foi o caminho que escolhemos traçar. Definimos qualidades, técnicas e categorias, não ciência popular-histórica.
O projeto de oficina de ARTE E EDUCAÇÃO: MEDIAÇÃO CULTURAL EM MUSEUS, GALERIAS E AFINS ao qual fui convidada a participar devido ao trabalho que realizei juntamente com os seus responsáveis foi o meu único momento de comunhão com o lado acadêmica do evento, no mais, como sendo meu último enearte em vista até então, o restante do tempo reservei para fazer pesquisa de campo na cidade, ver e ouvir o que seus museus, galerias, igrejas, praças e monumentos tinham a me contar sobre seu passado, presente e futuro, acredito que a melhor aula é aquela em que você participa ativamente entrando por seus corredores, sentindo o cheiro de sua mobília, pisando em sua tapeçaria, tocando em suas paredes grossas,... Isso é quase uma experiência da Bauhaus, por assim dizer, e eu firmei Bauhaus em minha memória durante uma dinâmica da professora Viga Gordilho tocando em caixinhas de fósforos onde cada qual trazia dentro um material com textura, cheiro e peso diferentes, da mesma forma como um espaço cultural funciona.
Enfim, o projeto de oficina que foi apresentado nesse enearte surgiu de experiências com arte-educação na Caixa Cultural de Salvador entre os anos de 2002 à 2006, projeto que surgiu a partir da possibilidade de integração da sociedade carente com a arte apresentada em galerias ditas “elitistas”. Durante esse período de trabalho, além dessa comunidade carente, recebemos um público pertencente à asilos, comunidades quilombolas, escolas públicas e particulares, orfanatos, alcoólicos anônimos, portadores de necessidades especiais, doentes terminais,... E diante dessa diversidade de público, desenvolvemos uma pedagogia com diferentes linguagens com o intuito de formar um público não só contemplador, mas como frisa bem Teixeira Coelho “...fazer a ponte entre as pessoas e a obra de cultura ou arte para que dessa obra, possam as pessoas retirar aquilo que lhe permitirá participar do universo cultural como um todo e aproximar-se uma das outras por meio da invenção de objetivos comuns.”
O que é um museu? O que é uma galeria? O que é um memorial?... Primeiro precisamos saber em que espaço cultural nos localizamos, saber definir esses espaços para podermos criar uma boa mediação. (esse seria o primeiro passo)
O projeto começou com a exposição “Histórias em Quadrões” de Maurício de Souza onde percebemos que devido a participação de públicos diferentes, a pedagogia educativa necessitava de novas linguagens e que desmistificasse a figura do monitor como um agente desconhecedor de História da Arte, por isso, esse projeto visa conscientizar e preparar um arte-educador realmente capaz de exercer as suas atividades decorrentes de um conhecimento acadêmico que de fato deve interagir com a sociedade.
Um outro objetivo importante desse projeto, é a questão da seleção de mediadores que tem o perfil para passar adiante o conhecimento teórico e prático em diversas categorias artísticas como escultura, pintura, gravura, desenho, fotografia, instalações..., e a sensibilidade para servir de ponte para esse público carente dessa “cultura cortês-artística”, assim como Fernanda Montenegro afirma “Eu não tenho certeza de que a arte modifica, de que a arte endireita alguém. Mas eu tenho certeza de que a arte conforta alguém.” (texto extraído do projeto)
Essa oficina de Arte-Educação contou com a participação de cerca de 22 alunos representantes dos estados do Maranhão, Amazonas e Rio de Janeiro, pessoas maravilhosas, alguns já com experiência em arte-educação, outros com um interesse pessoal em trabalhar futuramente com esse tema,... No primeiro dia pudemos nos conhecer melhor, cada qual contou sobre a sua vivência acadêmica e com o público de galeria e museu; no segundo dia introduzimos o assunto puxando para o lado dos conceitos sobre arte-educação, a questão da alteridade e antropologia, comentamos a respeito da diversidade cultural: tolerância e solidariedade, socialização da arte; No terceiro dia debatemos sobre a comunicação do mediador, sociabilidade, a cultura cortês-artística, a importância da História da Arte, a contemplação, o perfil de um mediador, e encerramento das atividades dentro da sala de aula com uma dinâmica; No quarto dia a oficina foi no campo cultural que a cidade oferece, visitamos alguns museus, galerias e o forte histórico, assim como algumas praças que encontramos no caminho.
A denominação mais precisa para a cidade de Belém seria “Grande Escola”. Embora esteja tão distante geograficamente do dito “pólo das artes” situado na região sudeste e sul do país, Belém concentra uma imensa quantidade de museus, galerias, praças, igrejas, e ruas históricas incríveis. É indefinível a emoção que sinto até agora por ter tido a honra e o prazer de conhecer mais essa cidade fabulosa e de pessoas encantadoras, creio que seja uma das cidades mais hospitaleiras do Brasil.
Primeiro dia da Oficina de Arte-Educação. Estrela na frente conversando com os alunos, e eu no fundo da sala apresentando os slides.
Segundo dia da oficina com apresentação de muitas imagens de museus, galerias, memoriais, pinacotecas,...
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