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As labaredas não me fazem ter dúvidas, a Inquisição persiste. Talvez os mais apressados pensem ser esta uma defesa da rebolativa professora que subiu ao palco para dançar uma das mais recentes pérolas da música baiana, mas não o é.
As labaredas não me fazem ter dúvidas, a Inquisição persiste. Talvez os mais apressados pensem ser esta uma defesa da rebolativa professora que subiu ao palco para dançar uma das mais recentes pérolas da música baiana, mas não o é.
O que para mim é tão revoltante, óbvio ululante em neons que piscam pela noite de breu, é que a incoerência, a parcialidade e as cegueiras do conhecimento (como diria Morin) continuem perenes História adentro.
Ícone da Educação, a atitude da professora não é condizente com a sua condição magnânima na sociedade, qual seja, educar, dar exemplos! Pena que o seu papel não seja tão importante quando se trata da sua remuneração, por exemplo.
A incapacidade humana de analisar o todo e não apenas as partes é absurda, quando não entendiante, como na mínima possibilidade de debater coisas deste tipo, no caso “a vergonhosa atitude da professora”, com aquela calcinha “toda enfiada”.
A cena é patética por si só.
O que me atrai deveras é entender por que diabos uma música como essa existe? O que me atrai mais ainda é entender por que diabos II esta música toca na rádio, dentro dos carros e casas, EDUCANDO, enquanto uma professora é punida por fazer o que todo mundo ouve impassível, ou mesmo aos requebros?
O que me atrai neste caso é compreender por que uma professora é demitida, enquanto Sarney “todo enfiado” na presidência do Senado não é retirado, por deixar “toda enfiada” a folha de pagamento da importante instituição do Legislativo, com seus parentes?
Enfim, talvez o fato de ser "fêmea" evoque a Eva primordial que toda mulher encerra, e mereça ser punida por fazer do seu glúteo a maçã que corrompe. Talvez, por ser professora, mereça ser punida para parecer que alguém se preocupa realmente com a Educação neste país.
A minha impotência se da aí, quando ao invés de colocarmos o todo em debate, sucumbimos aos sintomas de uma sociedade que insiste em se fazer pequena e alienada.
Bom seria se o problema do Brasil se resumisse a coreografias vulgares em cima dos palcos, mas a verdadeira e pior vulgaridade, que faz do nosso lindo país um dos mais desiguais do mundo, costuma acontecer entre quatro paredes, em escritórios e gabinetes de gente com trajes compostos, de corte fino e moral acima de qualquer suspeita.
Mas, entre quatro paredes pode.
Texto: Profa. Daiane Oliveira Graduada em História pela UNEB Professora da Rede Estadual e Particular de Ensino da Bahia
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