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sábado, 4 de julho de 2009

Diretor do V SemCine solta o verbo em entrevista

“PRECISÁVAMOS DE UM EVENTO QUE REUNISSE
QUEM PENSA E QUEM FAZ CINEMA” - WALTER LIMA

Idealizador e organizador do Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, o cineasta baiano Walter Lima está firme e entusiasmado, “apesar das dificuldades”, para fazer acontecer a quinta edição consecutiva do evento, de 27 de julho a 1o de agosto, em Salvador – no Teatro Castro Alves, Teatro Martim Gonçalves e Hotel da Bahia. Durante seis dias, centenas de pessoas estarão acompanhando e participando das múltiplas atividades de mesas-redondas, debates, exibição de filmes, mostra competitiva de curtas-metragens brasileiros e estrangeiros, lançamentos e estreias de longas-metragens nacionais e de outros países. Paralelamente, diretores, produtores e distribuidores estarão negociando a compra, venda e distribuição de produções cinematográficas e multimídias para o mercado interno e internacional. Abaixo, uma entrevista com Walter Lima sobre a trajetória e a importância do Seminário. “O povo precisa gostar mais do cinema brasileiro”, afirma.

POR QUE A IDEIA DE REALIZAR O SEMINÁRIO DE CINEMA?

Walter Lima - Na Bahia não tínhamos um evento internacional que projetasse o nosso estado para fora do Brasil. Existem a Jornada de Cinema e o Panorama de Cinema, mas não são eventos que promovam debates nem rodadas de negócios envolvendo produtores e distribuidores. Sentíamos falta também de algo de peso para atrair o público, como lançamentos de filmes de peso, de grandes diretores. No início eu pensei em fazer o Bahia Film Fest. Mas o formato era ‘furado’ porque mostra competitiva precisa ter tradição e repercussão, como os festivais de Veneza, Berlim, Cannes, Roterdã e Cuba, senão ‘queima o filme’. Nos grandes festivais os filmes repercutem. Então eu desisti. Depois pensamos um formato mais completo que reunisse quem pensa e quem faz cinema, surgindo aí o Seminário, que é um festival com ingredientes a mais, que são os debates e os negócios. Os produtores estrangeiros estão à nossa disposição; só que em um festival de Cannes, por exemplo, nós da periferia nem chegamos perto deles. Mas eles estão aí. Os que vêm para o Seminário são os mesmos de lá da Europa.

DE QUE MANEIRA O SEMINÁRIO CHEGOU ATÉ 2009?

WL - Este é o quinto ano consecutivo. A primeira edição foi realizada na Reitoria da Ufba, e o segundo, já com a projeção de filmes além dos debates, foi estendido para o Teatro Castro Alves (casa lotada na exibição de “O Corte” com a presença do próprio diretor grego Costa-Gravas), e o Hotel da Bahia. No segundo, fizemos o Encontro de Produtores Ibero-americanos, e no terceiro, o Encontro de Produtores de Países de Língua Latina. Já na quarta edição e também este ano, definimos uma abrangência ainda maior, realizando o Encontro Internacional de Produtores e Distribuidores de Cinema e TV, com uma média de 15 convidados estrangeiros, entre produtores e distribuidores, principalmente europeus. O Seminário convida diretamente os profissionais de outros países. Já os brasileiros são convidados através de uma parceria com o Programa Cinema do Brasil.

O QUE ACONTECE NAS RODADAS DE NEGOCIAÇÕES?

WL - Você tem um produtor com um filme pronto, que quer botar esse filme no mercado europeu, na TV, por exemplo. Por outro lado, um cara de lá tem interesse em jogar um filme no mercado daqui. Então, durante o Seminário, eles fazem contato com os distribuidores. Este ano estamos trazendo um vendedor internacional da empresa francesa Celluloid Dreams, a maior do mundo no setor. Se ele gostar do filme, a carreira internacional está garantida. Outro bom negócio é o da coprodução envolvendo países. As televisões compram muito esses projetos. Mas a TV entra no Seminário enquanto filme de arte, documentários, filmes experimentais, animação, filmes que se preocupam principalmente com a linguagem cinematográfica. Filme meramente comercial não interessa ao Seminário porque existe uma mesmice, o que chamo de realismo publicitário, que não traz nenhuma novidade. Talvez funcione nos Estados Unidos, mas não aqui.

COMO TEM SIDO A REPERCUSSÃO DO SEMINÁRIO E QUAIS OS DESTAQUES DESTE ANO?

WL - Sem dúvida, tem crescido a cada ano, apesar das dificuldades e do orçamento cada vez menor. Uma prova do bom resultado é O Lounge Multimídia que acontece no Foyer do TCA, espaço destinado às mídias eletrônicas, com uma programação extensa que inclui performances e DJs, proporcionando a interação entre os participantes. Essa programação começou timidamente na terceira edição, e no ano seguinte já registrava uma média de quatro mil visitantes por dia, notadamente o público jovem. O Lounge Multimídia tem o patrocínio da Oi Futuro. Já a mostra de longas-metragens traz sempre novidades. Este ano, o público assistirá à pré-estreia nacional e internacional do filme “Pau Brasil”, de Fernando Belens, e contará com películas inéditas premiadas, como “Karamazov”, do diretor tcheco Petr Zelenka, e “La Buena Vida”, do chileno Andres Wood.

E QUANTO À RETROSPECTIVA GODARD E A MOSTRA DE CURTAS BRASILEIROS?

WL - Esta mostra faz parte da programação oficial do Ano da França no Brasil. Vamos exibir 15 filmes de Godard. É uma homenagem aos 50 anos da Nouvelle Vague e ao cinema autoral. Godard é um revolucionário, faz o cinema diferenciado. Não está na narrativa literária, assim como Glauber, mas não é delirante como o cineasta baiano; Godard é mais contido, frio, do jeito europeu. Ele faz um cinema que eu chamo poético filosófico. Já a mostra competitiva reúne curtas-metragens brasileiros e tem premiação para o primeiro lugar. O vencedor ganha a finalização do filme e equipamentos cinematográficos das empresas Quanta e Tele Image.

QUAL A SUA EXPECTATIVA PARA ESTA QUINTA EDIÇÃO? E AS DIFICULDADES?

WL - Acho que vai ser muito bom. Estamos dando nó em pingo d’água, com recursos muito pequenos para um evento de estrutura tão complexa. Somente os dois projetores que estamos trazendo de São Paulo - porque aqui na Bahia infelizmente não tem - o aluguel de uma semana custa R$ 25 mil, cada um. É um investimento muito alto, mas tem que ser feito, se quisermos qualidade. O Seminário é bom para a Bahia e bom para o Brasil. Segundo o pessoal do Programa Cinema do Brasil, este é o melhor encontro de produtores do País, o mais interessante e o mais organizado. No Sudeste comenta-se que neste formato é o terceiro melhor evento, perdendo somente para o Festival do Rio e a Mostra de Cinema de São Paulo.

COMO ANDA O CINEMA NOS DIAS DE HOJE?


WL - O filme precisa emocionar. Não dá para sair do cinema para ir comer uma pizza sem se tocar, sentir raiva, indignação, alegria, sair cantando ou seja lá o que for. O bom filme tem que ter o poder do artista, que é o diretor. Ele é quem tem de dizer o que quer.
Por sua vez, o povo precisa gostar mais do cinema brasileiro. Às vezes tem uma comédia idiota que faz sucesso. A saída do cinema nacional é o mercado externo. No exterior, principalmente na Europa, somos mais respeitados do que aqui. O Brasil é líder em produções na América do Sul, mas o nosso cinema não tem presença forte no continente porque falta a mídia internacional. Aí não acontece nada. Por isso, discutir as estratégias de mercado é fundamental. Antigamente, fazer um filme baiano, como “Redenção” (1959), de Roberto Pires (1934-2001), era um acontecimento, lotava o cinema. Mas hoje o público está perdendo o interesse. Antigamente tínhamos 12 milhões de pessoas em uma temporada. Hoje, um filme de sucesso faz no máximo 5 milhões. Por outro lado, quando é festa, todo mundo vai, mas o cinema, assim como o teatro, é um ensinamento. A pessoa precisa ter interesse em aprender, de participar dessas experiências fantásticas.


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